quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

{ }


   uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma' é um livro de irene lisboa. comprei-o quando deveria ter os meus 11 anos e sinceramente acho que nunca lhe desfolhei todas as páginas. o título sempre me ficou no ouvido. embora fosse nova, sabia que aquela expressão me iria dar muito jeito no futuro. só depois de o comprar, e já só uns 5 anos mais tarde, descobri que ele era um conjunto de contos. e como todos os livros de contos, o título da obra nada tem a ver com o conteúdo. por um lado deixou-me desiludida, porque para além de não gostar de contos, aqueles eram histórias tristes, com finais tristes. não propriamente um livro de crianças. mas por outro lado ensinou-me que um livro não se julga pela capa e que nem sempre a vida tem finais felizes. basicamente descobri que comprei um livro porque a frase na capa era pensativa, embora nunca a tivesse percebido bem. sempre tive duas mãos cheias de nada. porque eu sabia que as coisas boas da vida eram as pessoas que nos rodeavam, os amigos, a família, o tal namorado ou vários, mas eram coisas abstratas, não podíamos agarrar na amizade deles e puxá-la como puxamos uma cadeira. podíamos agarrar os corpos, mas não a alma, e um corpo sem alma é como um mar sem lua. resumidamente tinha as mãos cheias com pessoas que não podia ter nas mãos. mas nos últimos tempos tenho percebido que afinal ambas as minhas mãos, e  todo o meu resto, estão cheios de coisa nenhuma. porque simplesmente não estão cheios. eu vivo para mim, e para mim só. como dizem os ingleses ou americanos, ou como lhes queiram chamar, 'me, myself and i'. mas como é que um ser humano que foi criado em sociedade, a pensar em sociedade, a agir em sociedade consegue viver 80 anos só por si só? bem oitenta não, são mais uns 50 porque nos primeiros 15 vivemos dos nossos pais e a partir dos nossos 65/75 vivemos com os nossos filhos e eles cuidam de nós como já um dia cuidámos deles. mas pronto, como viver 50 anos sozinho, preso na sua própria cabeça? com as suas próprias ratoeiras? é que as pessoas vêm, as pessoas vão, e por muito que a amizade seja longa e duradoura, a outra pessoa nunca saberá a nossa dor, e a nossa mágoa. o sofrimento que é causado dentro da nossa própria cabeça não vai embora. é como uma pirâmide egípcia. é feito para entrar e para lá ficar, por isso é que se chamam túmulos. e daqui a uns anos, quando a lista for maior, começo a tomar antidepressivos ou simplesmente arranjo um trabalho que me dê comida e roupa lavada e sobrevivo até não poder mais? eu gostava de viver, eu gostava de ter uma mão cheia de tudo e outra de coisa alguma ..

Sem comentários:

Enviar um comentário